Estátua nas Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador (Foto: Danutta Rodrigues) |
Com a morte da mãe, com apenas 7 anos, vai morar com as tias e aos 13 descobre a vocação religiosa. O primeiro contato com a pobreza foi quando acompanhou uma das tias em uma visita aos pobres no bairro do Tororó, em Salvador. Neste ano, 1927, Maria Rita cuidava dos doentes que batiam à sua porta na Rua da Independência, no bairro de Nazaré. Era o início de uma trajetória de fé, caridade e perseverança.
Após formar-se na Escola Normal da Bahia como professora, Maria Rita troca o uniforme estudantil pelo hábito religioso das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Em homenagem à mãe, recebe o nome de Irmã Dulce. Em 1935, a freira inicia os trabalhos de assistência à comunidade carente dos Alagados, conjunto de palafitas localizado no bairro de Itapagipe, em Salvador.
Obstinada e com uma personalidade forte e revolucionária, Irmã Dulce fundou a primeira organização operária católica da Bahia, que passou a ser chamada Círculo Operário da Bahia, além de ter participado da criação de cinemas e do Serviço de Alimentação do Comerciário, que servia almoço a preços populares. No local conhecido como “Ilha dos Ratos”, certa vez a freira solicitou a um banhista que estava de passagem que arrombasse uma das casas interditadas para abrigar um jovem doente de 15 anos. A partir daí a procura pela Santa dos Pobres só iria aumentar.
“Ela sempre foi para mim o maior exemplo de vida, desde pequena, pelas lições que ela me passava de amar ao próximo e ajudar as pessoas. A responsabilidade de todos nós que a conhecemos é maior, pois ela deixou um grande exemplo de solidariedade, independente da religião”, relata a jornalista Maria Rita Pontes, sobrinha de Irmã Dulce e diretora das Obras Sociais Irmã Dulce, OSID.
Legado
O legado do Anjo Bom da Bahia, como ficou conhecida, começou a ser construído em 1949, quando, a partir de um galinheiro cedido pela Superiora do Convento Santo Antônio, Irmã Dulce começou a atender aos doentes necessitados. “Uma obra considerada pelo Ministério da Saúde o maior complexo de saúde do Brasil que é 100% SUS, é muito difícil manter. Atendemos a população carente e fazemos exames de alta complexidade”, conta Maria Rita.
“O que me chamava atenção em Irmã Dulce era a preocupação que ela tinha com o outro. Ela poderia estar cansada e era incapaz de transferir isso ao outro. Sempre procurava ouvir, ajudar, acompanhar. Ela sempre tinha um tempo para todos. Ela era um evangelho vivo”, define a jornalista.
À frente da OSID há 20 anos, a filha de Dona Dulcinha, irmã do Anjo Bom da Bahia, tinha uma relação profunda com a tia. “Era como se fosse uma segunda mãe pra mim”, conta Maria Rita, que fez uma biografia sobre a vida de Irmã Dulce, A Santa dos Pobres.Livros
Irmã Dulce foi pauta para muitos escritores. Sua rica história encantou autores brasileiros e italianos, como Gaetano Passarelli, especialista em histórias de beatificação e autor do livro “Irmã Dulce: O Anjo bom da Bahia”.
“Depois de escrever a biografia de Dulce eu só tinha um desejo: vê-la em pessoa. Cheguei a Salvador porque iria acontecer a exumação. Eu fui o primeiro a abrir o gabinete e ver seu rosto. Eu tenho tanta sorte de ter conhecido não só em espírito, mas também toda a sua pessoa”, conta Gaetano Passarelli.
A escritora baiana Mabel Velloso também escreveu um livro sobre a trajetória do anjo bom da Bahia. “Fiz o livro a pedido da editora Callis, que faz parte da coleção ‘A luta de cada um’. Eu fiquei tão feliz de ter recebido esse pedido. No livro eu contei o que ouvi das pessoas que trabalhavam nas obras sociais e que conviveram com ela”, conta Mabel, que também é voluntária da OSID.
Santa em vida, Santa pós-mortem, Santa dos Pobres. No próximo dia 22 de maio, Irmã Dulce será beatificada após um milagre ter sido reconhecido pela Igreja Católica. “Ela é um grande exemplo para todos nós e que mostra que ser santo é uma coisa tão simples, tão fácil, basta que a gente faça o bem, saiba ouvir e ajude ao próximo”, conclui Maria Rita Pontes.
Fonte:G1
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