Bandeiras tarifárias vão bancar gasto extra do setor elétrico em 2015.
Apesar de grande, volume não foi suficiente para cobrir despesas.
Os consumidores brasileiros pagaram, em apenas dois meses, R$ 1,237
bilhão a mais nas contas de luz devido à taxa das bandeiras tarifárias,
que começou a vigorar em 2015. Entretanto, apesar de grande, esse volume
de recursos não foi suficiente para cobrir as despesas extras das
distribuidoras no período.
De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foram
arrecadados R$ 413,9 milhões via bandeiras tarifárias em janeiro. Com
esse valor, foi possível quitar apenas 28,7% dos custos do mês, que
somaram R$ 1,443 bilhão.
Em fevereiro, a arrecadação quase dobrou, chegando a R$ 823,1 milhões.
Mesmo assim, não foi suficiente para pagar as despesas atreladas de R$
1,147 bilhão.
De acordo com o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, o “descasamento”
já era esperado pois, em janeiro e fevereiro, o valor cobrado pelas
bandeiras foi menor – R$ 3 para cada 100 kWh (quilowatts-hora) de
energia consumidos no caso da bandeira vermelha, que vigorou durante
todo o período.
A partir de março, houve aumento da taxa, que passou para R$ 5,50 a
cada R$ 100 kWh usados, também na bandeira vermelha. O reajuste foi
adotado justamente para arrecadar os recursos que vão financiar parte
dos gastos extras do setor elétrico ao longo de 2015.
“[O déficit de janeiro e fevereiro] não é nenhuma frustração. Esses
valores eram esperados porque a primeira versão das bandeiras tinha uma
concepção de arrecadação menor. Em março, os recursos já devem cobrir a
conta do mês”, disse Rufino.
A diferença de R$ 1,353 bilhão registrada nos dois primeiros meses do
ano está sendo paga, a princípio, pelas próprias distribuidoras.
Entretanto, elas vão ser compensadas ao longo do ano, já que com o
aumento no valor da taxa a arrecadação com as bandeiras vai aumentar.
Em todo o ano de 2015, a Aneel espera que os consumidores paguem cerca de R$ 17 bilhões apenas via bandeiras tarifárias.
Realismo tarifário
O sistema de bandeiras foi criado para sinalizar aos consumidores o
real custo de produção da energia no país, o que é feito por meio da cor
da bandeira impresso nos boletos das contas de luz. Se a cor é verde, a
situação está normal e não há cobrança de taxa. Amarela, cobra-se R$
2,50 para cada 100 kWh de energia consumidos. Se vermelha, a taxa sobe
para R$ 5,50 para cada 100 kWh.
A bandeira vermelha está em vigor desde o início do ano, devido à falta
de chuvas que reduziu o volume dos reservatórios das principais
hidrelétricas do país. Essa situação vem obrigando o governo a manter
ligadas todas as termelétricas disponíveis.
Termelétricas são usinas que geram energia por meio da queima de
combustíveis como óleo e gás. Elas ajudam a poupar água dos
reservatórios das hidrelétricas, mas o custo de produzir eletricidade
com elas é muito maior.
A custo de operação das termelétricas é um dos itens cobertos pelas
bandeiras tarifárias. Outro é a compra, por algumas distribuidoras, de
energia no mercado à vista. Essas concessionárias recorrem ao mercado à
vista quando precisam de mais eletricidade para atender aos seus
consumidores do que aquela que têm sob contratos. O problema é que, no
mercado à vista, a energia também é mais cara.
Vantagem
O governo e a Aneel alegam que a aplicação da taxa das bandeiras
tarifárias, inclusive reajustada, é vantajosa para os consumidores, que
pagariam a conta extra do setor de qualquer maneira. Com as bandeiras,
porém, evita-se que as distribuidoras assumam esses custos bilionários
agora para depois serem ressarcidas, com juros, no próximo reajuste das
contas de luz.
No ano passado, de eleições presidenciais, o governo optou por fazer
empréstimos bancários para cobrir os mesmos gastos extras do setor
elétrico, já afetado pela falta de chuvas e queda no nível dos
reservatórios das hidrelétricas.
Com essa medida, o governo adiou o repasse desses gastos para as contas
de luz. Entretanto, a conta vai sair bem mais cara. O governo tomou R$
21,176 bilhões dos bancos, que ao final do pagamento, previsto para
2020, vão receber, agora dos consumidores, R$ 34,015 bilhões. Serão R$
12,838 bilhões, ou 37,7% do valor total da operação, apenas de juros.
Do G1
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