Amigos em comum dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando
Henrique Cardoso estão autorizados a promover uma conversa entre os
dois sobre a crise política, com o objetivo imediato de conter as
pressões pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, segundo publicou
o jornal Folha de S. Paulo, nesta quinta-feira (23).
A publicação afirma que, há cerca de duas semanas, amigos de Lula
discutiram separadamente com ele e FHC a possibilidade de um encontro
dos dois. Os contatos ocorreram às vésperas de o tucano viajar de férias
para a Europa.
Lula disse a aliados que a conversa poderia ser por telefone e antes de
Fernando Henrique viajar. O tucano preferiu deixar a definição de um
eventual encontro para ser discutida depois que ele voltar ao Brasil, em
agosto.
A intenção do petista é buscar um conciliador na oposição para tentar
dissipar, pelo menos dentro do PSDB, as forças que trabalham pelo
impeachment da presidente.
Em maio, Lula encontrou o senador José Serra (PSDB-SP) na festa de um
amigo comum e disse que gostaria de marcar uma conversa reservada. Lula
derrotou Serra na eleição de 2002.
A crise que envolve Dilma aprofundou-se nas últimas semanas, com o
avanço das investigações sobre corrupção na Petrobras, a crise econômica
e a rebeldia dos aliados do PT no Congresso.
SEM INTERMEDIÁRIOS
O Instituto Lula afirmou, por meio de nota, que o ex-presidente não tem
interesse em conversar com Fernando Henrique nem soube de nenhum
interesse da parte do antecessor.
Fernando Henrique disse à Folha, via e-mail: “O presidente Lula tem
meus telefones e não precisa de intermediários. Se desejar discutir
objetivamente temas como a reforma política, sabe que estou disposto a
contribuir democraticamente. Basta haver uma agenda clara e de
conhecimento público.”
Serra não quis confirmar o conteúdo da conversa que teve com Lula em
maio, e disse apenas que não tem nenhum encontro marcado com ele.
As informações sobre a movimentação de Lula foram confirmadas à Folha
por integrantes do Instituto Lula e políticos de três partidos. Para a
assessoria de Lula, “relatos anônimos” servem apenas para alimentar
“especulação”.
RADICALIZAÇÃO
Lula disse a aliados preferir uma conversa discreta com FHC. O petista
tem procurado evitar que seus movimentos ampliem a radicalização do
ambiente político.
O ex-presidente, que fez recentemente críticas ao modo como Dilma vem
lidando com a crise, tem procurado agir como bombeiro e procurou líderes
do PMDB, como o senador Renan Calheiros (AL), para conter os ânimos no
Congresso.
A decisão de buscar reaproximação com os tucanos foi debatida entre
Lula e seus auxiliares durante meses. Os petistas sabem que a
radicalização da campanha presidencial do ano passado, em que Dilma
atacou FHC, tornou mais difícil o diálogo com eles.
No PSDB, há dúvidas sobre a conveniência de uma conversa que tenha como
tema a governabilidade de Dilma. Mesmo tucanos considerados moderados,
que hoje são contra o impeachment, temem que um diálogo com o PT seja
visto como conchavo e arranhe a imagem do partido.
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que foi derrotado por
Dilma na eleição presidencial do ano passado, é visto pelos petistas
como um dos principais obstáculos a qualquer tentativa de acerto entre
os dois grupos políticos.
Fonte: Folha de S. Paulo
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