“Evidentemente que, depois da decisão do
Senado [pelo impeachment], abre-se um campo muito mais vasto para a
governabilidade. Então, certas questões que neste momento ainda não deu
tempo de tratar, eu tratarei depois, como a questão da reforma da
previdência. Acho que só poderei pleitear uma reforma da previdência se
tiver a efetivação”, disse Temer.
Sérgio Machado
Temer voltou a desqualificar as acusações
feitas contra ele pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Para
o presidente interino, Machado quer “polarizar” com a Presidência da
República. O peemedebista ressaltou a importância da Lava Jato e refutou
qualquer tentativa de limitar a atuação do Ministério Público e da
Polícia Federal.
“Não se deve pensar em paralisar a Lava
Jato. Ela exerce seu papel por meio do Ministério Público, do Poder
Judiciário, da Polícia Federal e deve prosseguir. Primeiro, que jamais
faria isso [paralisar a operação] e, no plano institucional, é ainda
mais grave [essa possibilidade]. Tenho pregado a independência das ações
e dos Poderes”. Segundo Temer, apesar de as delações terem provocado
baixas no governo interino, a força-tarefa da Lava Jato “exerce seu
papel”.
Doações eleitorais
Na entrevista, o presidente interino
defendeu a aprovação de uma reforma política, que limite o número de
partido e se manifestou favoravelmente à possibilidade de doação
eleitoral de empresas, desde que a contribuição seja limitada a apenas
um partido. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou
inconstitucional as normas que permitiam a empresas doar para campanhas
eleitorais.
Para Temer, com o desenrolar da Operação
Lava Jato tem havido a “criminalização” das doações eleitorais. “É
provável que algumas tenham sido objeto de atividade ilícita”, ponderou
Temer. Mas, para ele, a maior parte das doações ocorre de maneira legal.
“Não tinha nenhuma objeção às doação de
pessoas jurídicas. O que eu pregava é que se uma empresa resolver apoiar
um partido, ela deve entregar dinheiro para aquele partido, porque
quando se opta por uma candidatura ou partido, é um gesto de opinião. A
empresa diz assim: fulano de tal se comportará melhor em benefício do
país e do meu benefício. Os que não pode é autorizar a doação para todos
os partidos”.
Dilma
Sobre a presidenta afastada Dilma
Rousseff, Temer disse que sempre manteve uma relação “respeitosa” e
sempre “muito cerimoniosa”. Sobre o impeachment, Temer negou traição e
afirmou que não atuou para a aprovação da admissibilidade da denúncia de
crime de responsabilidade. Perguntado porque se manteve na chapa
petista depois de quatro anos como “vice decorativo”, Temer disse que
foram “circunstâncias políticas”
Para Temer, Dilma prefere as questões
técnicas do que os relacionamentos políticos, contudo, disse que, ao
assumir o poder, encontrou equívocos técnicos e “questões a resolver”. O
presidente interino ainda criticou a proposta de Dilma de, caso retorne
ao poder, seja convocado um plebiscito. “Com o plebiscito está dizendo
que deseja voltar, mas que se voltar não poderá governar. [Se] vai
voltar para convocar eleições é porque não quer governar”.
Sobre a limitação do uso dos aviões da
Força Aérea pela presidenta afastada, Temer disse que a decisão pela
manutenção das prerrogativas de Dilma após o afastamento se limita ao
deslocamento até a cidade natal.
“A senhora presidente tem o Palácio da
Alvorada, a Granja do Torto, tem aviões para se locomover para o estado
dela. Ela não está no exercício da Presidência, portanto, não tem
atividade de natureza governamental. Tive informações de que a senhora
presidente utilizaria os aviões para fazer companha contra o golpe. Uma
situação, pelo menos, esdrúxula”, disse Temer.
Eduardo Cunha
O presidente interino negou que o
presidente afastado da Câmara tenha influência no governo e tenha sido
responsável pela indicação do deputado André Moura (PSC-SE) para
liderança do governo na Câmara.“O Eduardo Cunha não tem absolutamente
nada a ver com isso. Atendi a um pleito de vários partidos e consultei a
toda base parlamentar e o nome foi aceito. Montei essa liderança do
governo na Câmara, no Senado, com o PSDB”.
Em relação ao processo de cassação de
Cunha, Temer disse ser importante que a Câmara “defina logo seu
destino”. “Apesar das dificuldades institucionais internas, não temos
tido dificuldade de aprovação dos projetos que estão sendo votados lá,
porque conseguimos firmar uma sólida maioria.”
Bolsa Família
O presidente interino voltou a dizer que
não pretende acabar com o Bolsa Família, mas que o governo tomará
medidas para inspecionar as condicionantes obrigatórias para a concessão
do benefício. “O que vamos fazer agora é inspecionar se este dever [de
matricular as crianças na escola] está sendo cumprido. Só tem sentido
dar dinheiro para uma família se ela estiver cumprindo os requisitos”.
Para Temer, caso o Senado confirme o
impeachment de Dilma, dois anos e meio a frente do país são suficientes
para “colocar o país nos trilhos”. “Estamos agindo em uma velocidade
extraordinária. Em brevíssimo tempo conseguimos aprovar questões
importante e, agora, o limite de gasto para União e agora para os
estados.”
Sobre política externa, o presidente em
exercício disse que só fará viagens ao exterior após o desfecho do
processo de afastamento e que a sua gestão está “universalizando o
Brasil”. “O Brasil não pode ter posições por sentimento ideológico”.
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