A situação do Brasil coloca o país 14 posições atrás do Paquistão (88º
lugar), país da jovem Malala Yousafzai, ganhadora do prêmio Nobel da Paz
por sua luta pelos direitos das mulheres e conhecida por ter sido
perseguida e quase assassinada pelo Taliban em seu país. O relatório
destaca ainda o fato de o Brasil estar apenas três posições à frente do
Haiti, mesmo tendo renda média considerada alta, enquanto a ilha é um
dos lugares mais pobres do mundo.
A situação dos países ricos, no entanto, também está aquém do esperado.
Embora possuam Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre os mais
altos do mundo, países como Austrália (21º no ranking), Reino Unido
(15º), Canadá (19º) e França (18º) ficaram em posições consideradas
ruins pela Save The Children.
“Nem todos os países ricos tiveram performances tão boas quanto
poderiam”, observa o relatório. “Isto é devido, na maior parte, à baixa
proporção de mulheres membros do Parlamento e à taxa relativamente alta
de fertilidade adolescente”, diz o documento.
Representação política
O relatório da Save The Children leva em consideração para o ranking
alguns fatores em especial – taxas de casamentos infantis, gravidez na
adolescência, mortalidade materna, representatividade feminina no
parlamento e índice de conclusão do ensino médio pelas garotas. O estudo
também aborda outras questões que influenciam a qualidade de vida das
meninas pelo mundo, como acesso a serviços de saúde e educação sexual,
violência de gênero, suscetibilidade a conflitos e desastres, além da
exclusão econômica.
Em alguns casos, a fragilidade das garotas está especialmente
relacionada à condição social delas. O documento observa que “na maioria
dos países, garotas de famílias pobres são alvos preferenciais do
casamento prematuro do que seus pares de famílias ricas”. E ainda que
“as garotas de algumas regiões em particular de alguns países são
desproporcionalmente afetadas” pelo casamento infantil. Este é o caso da
Etiópia, em que, em algumas regiões, 50% das meninas se casam antes dos
18 anos. Na capital, Adis Abeba, a taxa é de 12%.
Por outro lado, alguns países pobres têm desempenho consideravelmente
positivo em algumas questões, como a voz feminina na política. Ruanda é o
país do mundo com maior representatividade feminina no parlamento, com
64% de congressistas mulheres. Este fator coloca o país na 49ª posição
no ranking, mais de 50 pontos à frente do Brasil, que tem apenas 10% de
deputadas federais e 15% de senadoras.
“Ouvir as garotas e valorizar o que elas dizem ser suas necessidades é
essencial para determinar políticas que vão permitir que essas
necessidades sejam conhecidas. Amplificar as vozes das garotas é
condição central para cumprir a promessa da Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável de não deixar a 'ninguém para trás'”, pontua
o relatório.
A questão da representatividade feminina na política é o único fator
que pesa contra Suécia, Finlândia e Noruega, os três melhores países
para se nascer garota, segundo o ranking da Save The Children. Nesses
países, o índice de mortalidade materna e de casamento infantil é zero e
as taxas relativas a não conclusão do ensino médio ou de gravidez na
adolescência são muito baixas. A baixa quantidade de mulheres no
parlamento é o único fator negativo que aparece relacionado a eles.
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