O pobre "não sabe fazer nada". A contenção da explosão demográfica
deve ocorrer "em cima da classe mais humilde". Mas não adianta
distribuir preservativos a moradores de favelas, pois "a molecada vai
brincar de bexiga". Sobre mulheres, "tem muito pouco a falar", a não ser
que nasceu de uma. Maus políticos vão desaparecer quando "se acabarem
os pobres e os miseráveis".
Posições desse gênero eram defendidas
na tribuna da Câmara Municipal do Rio de Janeiro pelo candidato à
Presidência Jair Bolsonaro (PSL) quando ele foi vereador, de janeiro de
1989 a fevereiro de 1991. Àquela altura, o militar tinha 34 anos de
idade e estava na reserva remunerada do Exército como capitão. Ele se
elegera vereador em 1988 pelo conservador PDC (Partido Democrático
Cristão), que depois se fundiria com o PDS de Paulo Maluf, ex-prefeito
de São Paulo.
Ditas quando a Casa não tinha um canal de TV, as
palavras de Bolsonaro foram transcritas no DCM (Diário da Câmara
Municipal) do Rio. A Folha pesquisou as mais de 2.000 menções ao seu
nome de 1989 a 1991.
O levantamento indica que Bolsonaro fazia pronunciamentos esporádicos.
Só
às vezes pedia um aparte, como em junho de 1989, numa discussão sobre
uma onda de crimes violentos. Na condição de capitão do Exército, disse
que teria "uma solução, vamos assim dizer".
Sugeriu que
malfeitores fossem "depositados" no meio da Amazônia. Eles não ficariam
presos, mas soltos na mata. Poderiam "conviver com animais".
Um
colega brincou com o absurdo da ideia. "O que o senhor tem contra a
selva amazônica para fazer uma proposta desse gênero? [...] Acho que se
eles forem espertos o bastante para chegarem perto de Manaus vão matar
mais pessoas e nós estaríamos sendo responsáveis." Bolsonaro não se
perturbou: "Garanto que não chegam".
Bolsonaro mencionou o
controle da natalidade em duas ocasiões, sem esclarecer como pretendia
fazê-lo. O vereador duvidava de métodos contraceptivos: "Não adianta vir
com paliativo, mostrar folhetinhos para a população carente que é
analfabeta".
Bolsonaro relacionou, de forma pouco clara, o aumento da população à falta de qualificação profissional dos mais pobres.
"A
mão de obra excedente no Brasil é dessa classe mais carente, que não
sabe fazer nada. Eu recebo de vez em quando alguns ex-soldados em meu
gabinete, então digo 'companheiro, vou te empregar onde? O que você sabe
fazer?' E ele responde: 'Sei puxar cordinha de canhão, sei rastejar,
sei fazer faxina'. Vou colocá-lo onde? Com que cara vou solicitar para
um amigo meu um emprego para uma pessoa que não tem uma qualificação
como essa?"
Procurada, a pré-campanha de Bolsonaro não respondeu a um pedido de comentários sobre essas declarações.
Por: Folhapress
25/07/2018
Pobre não sabe fazer nada, disse Bolsonaro quando era vereador no Rio, nos anos 1990
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