O Ministério da Educação (MEC) e o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)
divulgaram, nesta quinta-feira (30), os resultados do Sistema de
Avaliação da Educação Básica (Saeb) com base em dados coletados em 2017.
No ranking, as escolas estaduais da Bahia aparecem
na 25ª posição (terceira pior colocação entre as 27 unidades da
federação) nas notas de Matemática, com 243 pontos, atrás apenas de
Amapá (242) e Pará (237). Em Português, o estado apresentou o segundo
pior resultado nacional, com 242 pontos, atrás do Pará, com 237.
Em Matemática, a Bahia ficou abaixo em 107 pontos da nota estabelecida
como adequada pelo Movimento Todos Pela Educação, que é de 350 pontos.
Em Português, o resultado também foi deficitário em 60 pontos, já que a
nota adequada é 300. No comparativo dos últimos dois anos, o estado
também apresentou queda de 2 pontos, tanto em Português quanto em
Matemática, já que, em 2015, obteve pontuação de 244 na primeira
disciplina e 245 na segunda.
O Subsecretário de Educação da Bahia, Nilson Pitombo
afirma que a pasta não desconhece os números divulgados quinta pelo
Ministério da Educação. “Pelo contrário, por conhecer, a gente se
organiza a partir de um programa de abrangência nacional oriundo do MEC,
que também está preocupado com os baixos níveis de proficiência dos
alunos de ensino médio. Atualmente, 85% das escolas da rede estadual da
Bahia possuem oficinas de leitura e compreensão do pensamento
matemático, além de acompanhamento pedagógico específico”, explicou.
Cenário Nacional
No entanto, não foi apenas a Bahia que teve
resultados bem abaixo do esperado. Dos 27 estados, apenas nove
conseguiram aumentar o desempenho dos alunos em Português e Matemática:
Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Goiás, Minas Gerais, Acre, Ceará,
Tocantins, Sergipe e Alagoas.
A pesquisa também mostrou que as redes estaduais
concentram mais de 80% dos alunos de ensino médio do país e os
resultados apresentados são os mais preocupantes entre as séries
avaliadas. Já as notas dos dois ciclos do Ensino Fundamental melhoraram
na rede pública do país.
A coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em
Educação do Estado da Bahia (APLB), Marilene Betros, afirmou que a
situação preocupa todo o país. “As mudanças que querem impor ao ensino
médio, que não incentivam o pensamento, trazem graves prejuízos
cognitivos aos alunos. Não se pode pensar em tirar Filosofia e
Sociologia da grade curricular, porque, apesar de ser preciso melhorar o
rendimento em Português e Matemática, é necessário dar ao aluno o senso
crítico também em todas as disciplinas”, declarou.
O Subsecretário de Educação afirmou que é necessário
fazer reformas curriculares que, de fato, tenham implicação nos
resultados da educação básica do país. “Eu defendo o que prevê a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, quanto aos estudantes terem
acesso a todas as formas de conhecimento, seja em comunicação,
tecnológico, que expliquem a formação e a estruturação do mundo político
e social”, apontou.
Ainda de acordo com Marilene Betros, “não se pode
pensar em melhor rendimento da educação se o próprio estado não oferece
boa qualidade de trabalho aos professores. Não há investimento,
mudanças, valorização do profissional, que já ganha pouco e ainda
precisa, às vezes, comprar por conta própria um piloto para poder dar
aula”.
“Desde que a LDB foi criada, já foram feitas algumas reformas na base curricular do ensino médio, como a de 1998, 2010 e 2017, mas elas precisam valorizar as quatro áreas fundamentais para a formação do estudante: linguagens, tecnologia, cultura e trabalho. As reformas surgem sem e vêm acontecendo sem a consistência de produzir resultados e são feitas alterações na base curricular de maneira precipitada e imatura, fazendo com que os problemas persistam”, concluiu Nildon Pitombo.
A diretora pedagógica do Instituto Chapada de
Educação e Pesquisa (ICEP), Elisabete Monteiro, afirmou que é necessário
criar currículos escolares viáveis para cada localidade do país. “É uma
necessidade visível se repensar os CV locais. A nova Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) conta um currículo a nível nacional, mas cada
estado e cada município precisa pensar a sua forma de educação para se
adequar às necessidades dos estudantes. Cada escola precisa pensar
também na gestão do ensino da instituição, nas realidades e necessidades
de demanda de aprendizagem dos estudantes, da diversidade dentro da
sala de aula”, avaliou.
Evasão e investimento
Ainda segundo o Censo e os dados do Sistema de
Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação (Siope), a Bahia
apresenta o segundo menor investimento por aluno da rede estadual do
país. Em 2017, o estado investiu apenas R$ 3.837,51 por aluno da
educação básica, atrás apenas do Pará, que gastou R$ 3.626,41.
O Ensino Médio público da Bahia teve o 4º menor
desempenho do Brasil no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb) de 2015, o mais recente divulgado pelo Governo Federal. O Ideb,
que deve ter mais um resultado divulgado na próxima segunda-feira (3),
mede os dados de aprovação escolar e as médias de desempenho dos alunos
no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Neste ano, o
presidente Michel Temer decidiu separar pela primeira vez a divulgação
dos dados do Saeb e do Ideb.
A coordenadora da APLB Sindicato, Marilene Betros
afirmou que a falta de investimento em educação é grave, na Bahia e no
Brasil. “Se não há investimento, a educação desce a ladeira e não
consegue ter qualidade. E ainda querem discutir congelamento dos gastos.
Isso não pode acontecer”, defendeu.
A professora Rita Aguiar, que ensina para alunos da
educação básica do Colégio Estadual Kleber Pacheco, em Portão, Lauro de
Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, afirmou que a falta de
investimento atinge tanto ensino fundamental quanto ensino médio. “O
ensino básico precisa de um cuidado sério dos órgãos públicos. As
escolas precisam muito de investimento e isso não é novidade desse
governo, vem de governos passados. Foi empurrado até chegar a esse ponto
que vemos hoje”, declarou.
Um dos alunos de Rita, Miguel de Souza (nome
fictício), de 16 anos, contou ao CORREIO que não se sente motivado a
frequentar a escola. “Eu acho tudo muito ruim, porque, apesar de eu ser
dedicado, não vejo esse mesmo clima em meus colegas, não consigo me
concentrar na sala de aula”, disse. O adolescente ainda ressaltou que o
fato de a escola não oferecer boas condições ao ensino faz com que os
professores também não tenham tanta vontade de dar aula. “A gente acaba
sentindo isso, que eles precisam de mais valorização”, concluiu.
Distorção idade-série
Outro resultado negativo identificado a partir de
dados do último Censo Escolar é a posição negativa da Bahia na chamada
taxa de distorção idade-série, que mede a quantidade de alunos que têm a
partir de dois anos a mais do que é considerado ideal para a série em
curso. Dos 461 mil alunos do Ensino Médio na rede estadual baiana, quase
224 mil estavam com atraso escolar de dois anos ou mais, o que
representa uma taxa de distorção de 48% apenas no ensino médio – bem
superior à média das redes estaduais do país, de 32%.
A idade ideal do aluno é definida pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9.394/1996), partindo do
princípio de que cada pessoa deve ingressar no 1º ano do ensino
fundamental com 6 anos de idade. A chamada taxa de distorção
idade-série, que mede a proporção de estudantes atrasados nos estudos, é
um dos pontos calculados para medir a qualidade da educação pelo Ideb e
a correção dos números é uma das metas do Plano Nacional de Educação.
Reprovação
E a lista de preocupações com o fluxo escolar dos
alunos do ensino médio estadual baiano não termina na distorção
idade-série. Segundo informações do último Censo, em 2016, a Bahia
registrou o maior índice de reprovação entre alunos do ensino médio de
toda a Região Nordeste. Um em cada cinco alunos foi reprovado no estado,
o que significa uma taxa de 20% - quase o dobro da taxa nacional, que
foi de 10,24%.
Miguel de Souza destacou que, no Colégio Estadual
Kleber Pacheco, muitos colegas já perderam o ano. “Não sei se isso está
relacionado apenas à falta de interesse ou até condição do aluno. Acho
que tem muito a ver com a qualidade do ensino que é oferecido e a forma
como isso se apresenta à turma”, disse.
A aluna do 3º ano do ensino médio do Colégio Thales
de Azevedo, Jamile Santos de Almeida, contou ao CORREIO que, “entre 0 a
10, a situação da escola merece 8. “Existem professores excelentes e
alguns não possuem nenhuma didática para estar em sala de aula, a
maioria dos meus colegas não consegue aprender nada. E, às vezes,
ficamos sem professores durante o ano, porque o estado não manda e isso
também vai desmotivando a gente”, falou a estudante.
Há, ainda, um aspecto relevante na análise do ensino
básico estadual na Bahia: 9 em cada 100 professores não têm sequer
ensino superior. O estado está na 11ª posição entre as unidades da
federação com mais professores sem formação superior. E, em relação aos
estados do Nordeste, a Bahia fica na 5ª posição. A professora Rita
Aguiar avaliou que não há valorização dos docentes. “Os professores
precisam ganhar mais, não por causa do trabalho que fazem, mas até para
atrair pessoas mais qualificadas para a função”, disse.
Tecnologia e infraestrutura
Por outro lado, o Censo Escolar divulgou que as
escolas estaduais da Bahia são mais bem equipadas com bibliotecas e
laboratórios de informática do que a média das redes estaduais do
Brasil. O destaque negativo, porém, são os laboratórios de ciências,
presentes em apenas 28% das unidades da rede estadual baiana.
“A tecnologia também precisa ser utilizada em
benefício do ensino, da melhoria na educação. O governo do Estado deve
estabelecer metas no plano de educação, para poder tirar as ideias do
papel e investir. O ensino de hoje não é mais aquele de 30 anos atrás.
As coisas mudaram e a gente precisa utilizar a tecnologia a nosso favor
para fazer do ensino um processo melhor”, declarou Marilene Betros.
O subsecretário Nildon Pitombo afirmou que, na
Bahia, já existem 7 unidades do Centro Juvenil de Ciência e Cultura em
funcionamento. “A gente tem trabalhado para fomentar o pensamento
matemático e científico. O resultado disso é a presença de alunos da
Bahia em feiras internacionais de Ciências, trazendo, muitas vezes,
premiações para o estado. A previsão da Secretaria de Educação é que, em
3 anos, pelo menos 50% da situação negativa da educação básica da Bahia
seja revertida”, concluiu.
Ações educacionais
A diretora pedagógica do ICEP, Elisabete Monteiro,
comentou os resultados do Saeb divulgados na quinta. Para ela, “os
números foram apresentados em outras pesquisas e estudos e aparecem para
ratificar uma situação que o Brasil vive atualmente em relação à
educação”. Ela chama a atenção, principalmente, aos percentuais de
evasão e reprovação da rede pública estadual, o que, segundo ela,
colabora justamente para a distorção idade-série.
“A multirrepetência implica necessariamente na desmotivação dos alunos e isso está cientificamente provado, indo desde a criança em anos iniciais do ensino fundamental até o ensino médio. E essa falta de motivação se estende até o professor, que não fica satisfeito de ver quase 50% dos estudantes serem reprovados por falta de aprendizagem”, contou. Elisabete afirmou que ações de apoio pedagógico para professores e alunos são peças importantes de combate a esses fenômenos.
Segundo a diretora pedagógica, o implemento de ações
deve acontecer para garantir o direito constitucional à educação, que é
indistinto e pertence a todos. “É um ciclo forte e perverso de deixar a
realidade nos engolir, o que nos faz pensar na formação do professor,
no apoio pedagógico dado a eles e aos estudantes, bem como à gestão
escolar, além da necessidade de atenção à formação do docente, tudo isso
faz parte de uma política de combate ao fracasso escolar que temos
observado nestes resultados do Saeb e Ideb”, destacou. “Isso não se
resolve com ações pontuais, sendo necessária uma política global de
educação”, concluiu.
Fonte: Correio da Bahia
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