A crise na Venezuela
trouxe 25 novos moradores para a cidade de Alagoinhas, no Nordeste do
estado, e mais cinco para Salvador. Para escapar da grave escassez e da
recessão econômica do país, os venezuelanos, adultos e crianças,
solicitaram refúgio e residência temporária no Brasil. Eles devem chegar
na cidade do interior nesta quinta-feira (25).
Segundo a Casa Civil, os estrangeiros estão com
vagas de trabalho já sinalizadas. A viagem foi feita em uma aeronave
C-99 da Força Aérea Brasileira (FAB), que decolou às 8h (hora local) no
aeroporto de Boa Vista, em Roraima, e pousou às 14h45 na Base Aérea de
Salvador.
Os preparativos para a viagem começaram por volta das 5h no abrigo
Rondon 2. Depois de chegar na capital baiana, o grupo segue de ônibus
para Alagoinhas, a cerca de 120 km da capital.
Esta fase da interiorização foi construída em
parceria entre o Governo Federal, a Organização das Nações Unidas (ONU) e
a Associação Voluntários para o Serviço Internacional – Brasil (AVSI
Brasil).
Este é o primeiro grupo que parte dos abrigos
gerenciados pela Agência da ONU para Refugiados (Acnur) em parceria com a
AVSI Brasil, em Boa Vista, na modalidade de interiorização para
trabalho.
A AVSI fez contato prévio com empresas para garantir
empregos para os venezuelanos com mão de obra especializada, além de
contribuir com a infraestrututra necessária para a acolhida, como
locação de apartamentos mobiliados, alimentos e produtos de higiene
pessoal.
Além do grupo que vem para a Bahia, outros 14
venezuelanos e venezuelanas seguirão para as cidades de Florianópolis
(SC) e Chapecó (SC) em voos comerciais, custeados pela Organização
Internacional para as Migrações (OIM). Nesta modalidade, os imigrantes
não são levados para abrigos, mas para casas de familiares que já se
estabeleceram nos destinos.
Com as viagens desta quinta-feira (25), passa de 2,8
mil o número de pessoas que já participaram da interiorização. A
iniciativa foi criada para ajudar os venezuelanos que estão em Roraima a
buscarem melhores oportunidades no Brasil.
A situação começou a se manifestar em 2014, mas já dava sinais desde 2012, de acordo com o professor Felippe Ramos, do curso de Relações Internacionais da Unifacs. Só para dar uma ideia, a economia da Venezuela pouco produz além do petróleo. Praticamente tudo que se consome no país é importado.
“A partir de 2014, há a queda do preço do petróleo
nos mercados internacionais e agrava fortemente a situação. Nesse
momento, o governo passa a gastar mais do que arrecada”, explica.
Naquele momento, começaram a ser propostas algumas
medidas econômicas de abertura e atração de investimento estrangeiro,
mas o presidente Nicolás Maduro, que sucedeu Hugo Chávez, preferiu
financiar o déficit fiscal com emissão monetária.
“Ou seja, na falta de dinheiro, a gente imprime
dinheiro. Com isso, o dólar paralelo dispara. O governo mantém uma taxa
fixa de câmbio, mas o dólar paralelo se descola muito do fixo e a
economia começa a ter uma diferença muito grande entre produtos
subsidiados pelo governo e produtos importados sem subsídio”.
Assim, a inflação aumenta, os preços dos produtos
disparam e o governo perde o controle do déficit fiscal. Logo, a emissão
monetária não era mais suficiente para bancar o rombo: o governo passou
a ter menos dólares para importar e teve início uma grave escassez na
economia.
Era falta de tudo: papel higiênico, açúcar, frango,
remédios, absorventes, preservativos. Nesse contexto, houve aumento de
casos de gravidez precoce e surtos de epidemias de doenças que antes
estavam controladas, como o sarampo. Nessa época, o salário mínimo caiu a
preço real de um dólar – o mais baixo do mundo.
“O governo perdeu a capacidade de investir na
própria indústria básica que lhe sustenta: a petroleira. Segundo o FMI
(Fundo Monetário Internacional), a inflação deve fechar o ano em
1.000.000%”, explica o professor.
E foi assim que a vida na Venezuela se tornou
inviável para os cidadãos – principalmente de classe média baixa e
baixa. Em 2015, o fluxo de migrantes disparou; nos anos de 2016 e 2017,
essas pessoas seguiam, principalmente, para países como Colômbia,
Espanha e Estados Unidos. Mesmo tendo recebido migrantes em anos
anteriores, foi só agora, em 2018, que o Brasil sentiu o maior impacto.
Desde 2012, cerca de 2,3 milhões de pessoas deixaram
a Venezuela. “Em números absolutos, é a maior crise de imigrantes do
mundo. É maior do que a Síria, a Líbia, o Iêmen, só que não se sentiu
tanto porque muitos desses 2,3 milhões eram pessoas de classe média, que
tinham acesso a recursos econômicos e educacionais”.
(Correio da Bahia)
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