O ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL) durante entrevista coletiva nesta segunda-feira(18) na capital alemã — Foto: M. Damasceno/RFI |
Em entrevista coletiva em Berlim, nesta segunda-feira (18), o
ex-deputado federal do PSOL, Jean Wyllys, revelou que está morando na
capital alemã, onde pretende procurar uma bolsa para doutorado. Ele
disse que está vivendo com ajuda de amigos e não tem onde morar.
No mês passado, Wyllys anunciou que, por causa de ameaças de morte
contra ele e sua família, desistia de assumir o que seria seu terceiro
mandato consecutivo na Câmara dos Deputados e estava deixando o Brasil.
Nesta sexta-feira, o ex-deputado apareceu pela primeira vez em público
depois que deixou o país, ao comparecer à sessão do filme brasileiro
"Marighella" no Festival de Cinema de Berlim.
Wyllys fez duras críticas à política de segurança do atual governo,
taxando-a como uma tentativa de legalizar assassinatos cometidos contra
minorias e um primeiro passo para uma futura repressão à oposição.
“Minha vida ainda está se assentando. Estou em Berlim, não tenho
moradia, conto com ajuda de amigos. Ainda não tenho um novo trabalho.
Provavelmente vou me inscrever em um programa de doutorado, para fazer
doutorado. Existem conversas com instituições que podem me receber como
pesquisador, como professor visitante. Existem conversas com diferentes
instituições mas ainda não há nada acertado”, declarou.
Ele afirmou que teve oferta de asilo político do governo francês, mas que não pretende aceitar. (O G1 procurou a Embaixada da França em Brasília e obteve a seguinte resposta: "A informação não é de conhecimento da embaixada".)
“O asilo político é um instituto que demora um tempo. Há outras pessoas
que precisam de asilo político. Para mim, permanecer aqui com um visto
de estudante ou pesquisador é muito melhor do que um asilo político.”
'Esse é o nível do presidente do Brasil'
“Não basta ser um energúmeno, um incompetente, uma pessoa que esteve 30
anos no Parlamento e não produziu nada”, disse. “Não basta ser um
imbecil e incompetente que nada sabe sobre economia, políticas de saúde,
educação, moradia e infraestrutura. Tem que ser esse debochado, esse
moleque que trata a democracia dessa maneira. Ele só confirmou a minha
decisão, só me deu razão de que, de fato, o Brasil não era mais o lugar
para mim”, afirmou Wyllys.
(O G1 procurou a assessoria do Palácio do Planalto para saber se a Presidência pretende se manifestar sobre a declaração.)
O ex-parlamentar disse que o vice-presidente é um integrante do governo
que teve uma reação “moderada” e “lúcida” em relação ao caso. Hamilton Mourão afirmou que a ameaça a um parlamentar é um crime contra a democracia, em referência à decisão de Wyllys.
“Chegamos a um ponto no Brasil em que consideramos o general Hamilton
Mourão, com um histórico de extrema direita, como moderado. A que ponto
chegamos?” afirmou.
“Ele é um militar de extrema direita, mas ainda consegue ser
minimamente moderado, lúcido, diante do sujeito que é hoje presidente da
república e que comemorou a saída de um deputado por conta de ameaças
de morte”, disse.
“Um presidente deve cuidar da população de seu país. Depois de eleito,
ele é responsável pela população. Mas esse sujeito ainda não age como
presidente da República. Ele continua agindo como se ainda estivesse em
campanha. Tratando as 40 milhões de pessoas que não lhe deram votos, que
votaram nos outros candidatos, como inimigos”, lamentou Wyllys.
'Essa voz continuará falando'
Ele ressaltou que pretende continuar sendo uma voz ativa na política
brasileira, mesmo do exterior. “A minha decisão foi um ato de
preservação da minha vida e proteção da minha família, mas foi também um
recado político ao mundo. Uma maneira de deixar de naturalizar o que
estava sendo naturalizado no Brasil”, disse.
“Acho que esse recado já foi dado, e essa voz permanecerá falando,
ainda que neste momento eu me recolha um pouco mais porque estou
emocionalmente ainda muito afetado com tudo o que aconteceu”, reconhece.
“Isso não significa que vou deixar o front. É possível fazer política
fora do Parlamento”.
Wyllys afirmou que as propostas para a segurança do novo governo visam
legalizar assassinatos e abrir porta para a repressão contra a oposição.
“A única coisa proposta claramente ao país foi um programa de segurança
pública oferecido por Sergio Moro que quer legalizar o que a polícia
brasileira já faz todos os dias, que é matar pessoas. A polícia
brasileira já é campeã de assassinatos de pobres e pretos no Brasil. E
os policiais saem impunes desses crimes”, disse.
“O atual ministro da Justiça quer legalizar e ampliar possibilidades de
assassinatos das pessoas. Por trás disso está na verdade uma tentativa
de legalizar a repressão contra a oposição política que vai haver no
governo Bolsonaro. O pacote dialoga com os preconceitos da classe média,
mas a verdade é criminalizar os movimentos sociais”, concluiu o
ex-parlamentar.
(G1)
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