Longe dos holofotes desde que tomou posse como deputado federal na
Câmara, Aécio Neves assumiu posição de destaque neste sábado (4) na
convenção estadual do PSDB em Minas Gerais e definiu as gestões de Jair
Bolsonaro (PSL) e de Romeu Zema (Novo) como "governos de
principiantes".
"São governos que estão aprendendo com a roda
girando. Isso não é demérito para ninguém”, afirmou Aécio, que criticou
principalmente a política externa do presidente da República e foi
incisivo na defesa de independência do PSDB em Minas em relação ao
governador Zema.
O tucano passou a ser alvo de críticas de
caciques do partido pelo país especialmente após ser gravado pelo
empresário Joesley Batista, da JBS, em maio de 2017, pedindo R$ 2
milhões. Investigado na Lava Jato, perdeu protagonismo e teve sua
expulsão da sigla cogitada por correligionários.
Neste sábado, no evento do PSDB mineiro, saiu do papel de vidraça —e ensaiou críticas mais incisivas ao governo federal.
O
ex-senador e atual deputado disse estar travando “um embate forte
contra uma politica externa equivocada” de Bolsonaro. O tucano vai
assumir a presidência de uma subcomissão na Câmara dos Deputados para
discutir a participação do Brasil em organismos internacionais.
Entre
os temas estão o acordo da base de Alcântara com os Estados Unidos e a
troca de um lugar na OMC (Organização Mundial do Comércio) pela OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Sobre esse
último, Aécio afirmou foi "uma surpresa”, depois da viagem do presidente
aos EUA, já que o assunto nunca foi debatido internamente.
Na
avaliação dele, o país saiu de uma política externa com viés ideológico
de esquerda, que seria a responsável pelo fortalecimento do governo de
Nicolás Maduro na Venezuela, mas agora vê “outra face da mesma moeda”
com o atual Itamaraty.
“Ao negar e questionar esse alinhamento, na
verdade, o governo Bolsonaro busca um alinhamento à direita que também
não corresponde à tradição da política externa brasileira. A nossa
tradição é de pragmatismo, de equilíbrio em favor dos interesses do
país”, afirmou.
Aécio não fez críticas pontuais a ações de Zema,
mas foi incisivo na defesa de que o PSDB marque independência. Desde o
início do governo, a liderança na Assembleia Legislativa e a secretaria
de governo de Zema estão nas mãos de tucanos: o deputado Luiz Humberto
Carneiro, que foi líder no governo de Antonio Anastasia, e Custódio de
Mattos. Nenhum dos dois apareceu na convenção estadual.
“[Zema]
buscou esses quadros, ele não pediu autorização do partido, ele não
submeteu essas escolhas ao partido. É natural que ele vá percebendo com o
tempo a qualidade dos quadros do PSDB. O PSDB não se negou a ceder seus
quadros ao governo, mas é muito diferente de sermos porta-vozes
políticos de uma agenda que não conhecemos, não discutimos”, declarou
Aécio a jornalistas.
Segundo ele, o partido não sabe o que Zema
pretende fazer para a reforma do estado ou na questão das privatizações.
No discurso para correligionários, Aécio defendeu de forma apaixonada a
posição ideológica de social-democrata.
“Somos social-democratas,
sim. Porque acreditamos no mercado, acreditamos que é importante dar
condições para que as pessoas invistam e gerem empregos, mas o nosso
programa não é do ultraliberalismo. Achamos que o Estado tem papel
importante nas políticas sociais e na diminuição das desigualdades”,
disse, aplaudido pelo público.
Nas últimas semanas, lideranças
tucanas começaram a conversar internamente com as bancadas federal e
estadual sobre a mudança de posição diante do governo do estado.
“Independência” virou a palavra de ordem adotada.
O novo
presidente estadual da legenda, deputado federal Paulo Abi-Ackel, do
grupo de Aécio, afirmou que, a partir de agora, deputados que quiserem
participar do governo o farão “de forma pessoal e individual”. O partido
Novo, diz ele, não é um projeto do PSDB e os tucanos não estão
“inteiramente alinhados” ao projeto de Zema.
“Os deputados
estaduais do PSDB estão fazendo um papel histórico, no sentido de ajudar
Minas e o governo. Nunca vocês nos encontrarão numa posição irracional.
Sempre votaremos com os assuntos que sejam do interesse do estado. O
que acontece é que devemos, daqui para frente, avaliar melhor nossa
posição em relação ao apoio ao governo do estado”, explicou Abi-Ackel.
Candidato
derrotado por Zema no segundo turno, o senador Antonio Anastasia evitou
esse discurso. O atual governo tem entre seus quadros vários nomes que
fizeram parte da gestão dele quando governador e o tucano têm mantido um
relacionamento próximo a Zema desde o início do governo. Anastasia diz
que isso se deve a sua posição de senador e que tem apenas "respeito e
cordialidade no trato".
“Eu fui o candidato derrotado das
eleições, vocês conhecem meu estilo. É indelicado, é incorreto fazer
avaliação. A avaliação sempre é feita no momento oportuno, pela
população”, respondeu sobre os primeiros quatro meses de governo.
“Eu
não quero fazer avaliação porque, primeiro, sou professor
universitário, mas estou afastado da universidade. Não vou dar nota a
ninguém, nem a mim, nem aos outros. Tem que respeitar isso.”
Aécio
foi aplaudido e ovacionado nas duas salas da convenção, posou para
fotos com quem o parava nos corredores e na mesa principal, e esperou
para falar com a imprensa. Estava à vontade e sorridente.
No
discurso de cerca de 10 minutos, disse que “para quem vive as
intempéries da política” não há nada mais valioso do que sentir “o
abraço, o carinho, o olhar afetuoso” de quem conhece sua história.
Na
fala, afirmou que “ninguém em Minas e talvez no Brasil foi vítima de
ataques, ofensas e acusações tão torpes” como aquelas direcionadas a
ele.
Para jornalistas e para o público, repetiu a frase estampada
em uma camiseta que Fernando Collor de Mello usou na época de seu
impeachment: o tempo é o senhor da razão.
“Conheço meu passado,
sei o que fiz e o que posso ainda fazer. O tempo, o tempo é o senhor da
razão. É o tempo que vai demonstrar, de forma muito clara que os ataques
dos quais hoje somos vítimas tem muito a ver com a importância que
adquirimos. Nós tucanos não temos razão para nos envergonhar de
absolutamente nada”, disse.
Ex-ministro do governo Michel Temer
(MDB), Antonio Imbassahy (PSDB-BA) participou do evento, segundo ele, a
pedido do governador de São Paulo, João Doria . Atualmente, ele é chefe
do escritório de governo de Doria em Brasília.
PREFEITURA
As
lideranças tucanas falaram superficialmente sobre o que farão na disputa
para a prefeitura da capital, no ano que vem. O PSDB é o partido com
maior número de prefeituras em Minas Gerais.
Segundo o novo
presidente, o assunto ainda será debatido internamente, para definir se o
partido terá candidato próprio ou apoiará algum aliado. O atual
prefeito Alexandre Kalil já anunciou que irá deixar o PHS para se filiar
ao PSD. O convite veio de Gilberto Kassab, que foi aliado dos tucanos
em São Paulo.
“Vou verificar com as bases do partido, com a
militância que é grande, para ver qual é exatamente o desejo das bases.
Se é ter uma candidatura própria ou apoiar companheiros nossos que
estejam, eventualmente, em outros partidos”, disse Abi-Ackel.
Anastasia afirmou que a decisão depende de construções políticas futuras, mas ressaltou o nome do atual prefeito.
“O
que eu tenho dito publicamente, não escondo, é que admiro a
administração do prefeito Kalil. Acho que ele é um bom prefeito, está
bem avaliado, mas num momento oportuno, não só o PSDB, mas os demais
partidos, vão discutir questões eleitorais”.
04/05/2019
Aplaudido no PSDB de MG, Aécio chama governos Zema e Bolsonaro de principiantes
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