"A sucessão de reveses do Ministério Público Federal (MPF) fez com que procuradores passem a defender um novo julgamento para o ex-presidente Lula", informa a jornalista Mônica Bergamo, em sua coluna. "De acordo com um dos integrantes do MPF que participou diretamente da Operação Lava Jato na equipe do ex-procurador Rodrigo Janot, seria a única forma de pacificar o país e afastar as inúmeras suspeitas que passaram a pesar sobre os procuradores e o ex-juiz Sergio Moro.
Nosso sistema penal seria uma maravilha se cada condenado
cumprindo sentença tivesse do Ministério Público que o acusou a atenção que o
ex-presidente Lula recebeu de Deltan Dallagnol e seus colegas nesta sexta,
quatro dias depois de ter completado 1/6 da pena e ganhado direito à progressão
de regime. Será que os procuradores da Lava Jato que pediram que Lula saia da
cadeia de Curitiba para cumprir pena em regime domiciliar ficaram bonzinhos de
repente?
Nada disso. Tudo indica que o movimento da força tarefa da Lava Jato seja
uma tentativa de se antecipar a uma possível liberação de Lula no Supremo
Tribunal Federal. Derrotados esta semana no plenário da Corte, que acolheu a
augumentação de que o réu delatado tem direito a apresentar suas alegações
finais depois das do delator, os procuradores farejaram que, muito
possivelmente, o próximo passo do Supremo poderá ser soltar o ex-presidente.
Antes de mais essa derrota, portanto, tentam esvaziar o habeas corpus de Lula e
outros recursos de sua defesa.
E qual a diferença, alguns devem estar se perguntando. Afinal, o
importante, para quem está preso, é parar de ver o sol nascer quadrado. Para
Lula, que por ‘n’ razões já mostrou que não é um preso comum, não é bem assim.
O próprio presidente determinara à sua defesa para não mover uma palha no rumo
da progressão de regime porque, depois da revelação da chamada Vaza Jato,
deflagrada pelo site The Intercept, passou a apostar numa anulação de sua
sentença com base na acusação de parcialidade contra o ministro e ex-juiz Sergio
Moro. No mínimo, num habeas corpus ou outro tipo de medida cautelar para que
aguarde em liberdade o julgamento da imparcialidade de Moro.
Para Lula, o líder político, a forma de sair da cadeia faz toda a
diferença. Sair tendo o reconhecimento do STF de que quem o julgou não foi
imparcial equivale a mais do que uma absolvição. Nesse caso, estaria pronto
para voltar às ruas e retomar seus planos policos de onde parou: a candidatura
à presidência da República. E cheio de discurso. Coisa muito diferente, para
ele, seria passar à prisão semi-aberta ou domiciliar, sujeito à vigilância e,
até, ao humilhante uso de uma tornozeleira.
Todo mundo sabe que a questão hoje não é mais se Lula será solto ou não –
mas em que condições e quando isso ocorrerá, com seus devidos impactos
políticos. É isso que está em jogo.
O STF, que não teve coragem ainda para retomar, na Segunda Turma, o
julgamemto do HC de Lula, tem dado sinais de que, quem sabe, terá chegado a
hora de dar um freio de arrumação na Lava Jato. A força tarefa, após seguidas
derrotas também no Legislativo, já percebeu isso e, mais uma vez, está atuando
politicamente. Para Curitiba, a forma como Lula sair da cadeia também fará toda
a diferença, inclusive no lugar que vai ocupar na história.
Brasil247
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