Ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato de Curitiba, Deltan Dallagnol admitiu em conversa com colegas procuradores do Ministério Público Federal (MPF), que se sentia desconfortável em defender um amigo do ex-juiz Sergio Moro, o advogado Carlos Zucolotto Junior.
Carlos Zucolotto é ex-sócio da esposa de Moro, Rosângela, e padrinho de casamento dos dois. Ele foi acusado de caixa dois, por ter supostamente intermediado negociações paralelas em investigações da Lava Jato.
Ele foi acusado do esquema pelo ex-advogado da Odebrecht, Tacla Duran, que fugiu para Espanha sob o argumento de que foi extorquido pelo advogado Marlus Arns para não ser preso. De acordo com Duran, Zucolotto era responsável por intermediar negociações de delações premiadas com o MPF, em troca de dinheiro.
Segundo informações da colunista Mônica Bérgamo, da Folha de S. Paulo, Moro, que não chegou a ser citado na acusação, saiu em defesa do amigo advogado. Em nota publicada no veículo à época, o ex-ministro confirmou a relação de amizade com Zucolotto Jr.
Assim que a nota de Moro foi publicada na Folha, Dallagnol discutiu com outros procuradores como o MPF deveria se posicionar em relação ao assunto. Na primeira mensagem, ele copiou trechos da sua conversa com Sergio Moro.
"A princípio não íamos fazer nada, pois uma nota acaba gerando uma segunda onda de notícias. Que Mônica Bergamo ia publicar, não tinha dúvida. Da maneira como publicou fica claro que não foi adianta [adiante] na tentativa de investigar os fatos. Estamos monitorando as repercussões. Se a reportagem reverberar em outros órgãos de imprensa sérios, é o caso de posicionamento. Mas se você quiser que façamos nota, nós faremos hoje mesmo", disse Dallagnol a Moro.
Ele acrescenta aos procuradores que talvez seja o caso de fazermos uma nota, apesar de objetivamente não ser o caso, somente para dar suporte ao Moro. Prefiro notas curtas, pois não me sinto confortável em endossar totalmente o Moro em relação ao Zucolotto."
O temor de Dallagnol não foi suficiente para evitar a publicação de uma nota do MPF, de 11 parágrafos, que repudiava as acusações de Tacla Duran.
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