Lideranças da bancada ruralista no Congresso creditam o veto da China à compra de carnes do Brasil ao presidente Jair Bolsonaro, que tem culpa pelas crises diplomáticas entre os países nos últimos anos.
Mesmo após reduzir o tom dos ataques contra a China e da saída de quadros do governo, como os ministros Arthur Weintraub (Educação) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores), que ajudavam a tensionar a relação com o país que mais compra do Brasil, sendo o destino de 32% das exportações brasileiras.
Weintraub já debochou do sotaques dos chineses em publicação nas redes sociais e Ernesto Araújo já se referiu à Covid-19 como "comunavírus", em um artigo xenofóbico publicado em seu blog pessoal.
O próprio Bolsonaro sugeriu em uma ocasião que a China promovia uma guerra biológica com o coronavírus e que a pandemia teria sido criada intencionalmente em laboratórios chineses.
Vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária e ex-ministro da Agricultura, Neri Geller (PP-MT) reconhece que o governo se afastou das diferenças ideológicos e manteve uma relação "mais pragmática e comercial" com a China recentemente, mas que as crises anteriores ainda refletem no saldo final da relação entre os países.
“Acho que o governo melhorou nos últimos seis meses, tirou o ingrediente ideológico e entrou a questão mais pragmática e comercial, que tem que prevalecer. Mas tem, sim, um rescaldo, que atrapalhou e atrapalha”, disse Neri, que em entrevista à coluna Painel, da Folha de S. Paulo, admitiu que a Frente vê com "muita aflição" o veto da China.
O maior temor é que este veto se estenda a outros produtos e complique ainda mais a fragilizada economia brasileira.
"“Hoje está na proteína animal, mas pode repercutir amanhã na soja, no milho, nas commodities que vão para fora”, alerta.
O deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), ex-líder da bancada, diz que este é um comportamento histórico da China quando pretende renegociar os preços, mas que as motivações reais do embargo só serão descobertos em uma visita da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ao país.
“A China sempre foi muito pragmática. Do ponto de vista ideológico, é socialista, mas do ponto de vista da economia, é dos países mais liberais, com competição de mercado internacional. É possível que, se tiver outro país mais alinhado a eles e que possa oferecer grandes volumes de carne, a China exerça a preferência nesse período. Não creio que seja o motivo predominante [o desgaste ideológico com o Brasil], acho que está muito mais relacionado a preço, mas pode sim ter contribuído para essa decisão [pela manutenção do embargo]”, analisa.
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